Sobre a depressão na infância e adolescência: descrição clínica e critérios diagnósticos






De acordo com o código internacional de doenças (CID) a depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como distúrbios do sono e do apetite.

É um transtorno de humor que se manifesta por mudança acentuada e prolongada das emoções da criança ou do adolescente, a qual se caracteriza pelo predomínio de depressão e de desespero e, muitas vezes, por uma falta de interesse acentuada e uma queda geral do nível de atividade ou, inversamente, por uma agitação maníaca.

Os transtornos são muito mais comprometedores que uma mudança de humor passageira e geralmente estão associados a psicopatologias ou a acontecimentos estressantes, como luto, divórcio ou doença. 

De fato, os deprimidos apresentam com frequência vários transtornos, o que faz da comorbidade uma regra nesse campo, muito mais que uma exceção.

Quando os transtornos de humor persistem, estão associados a dificuldades de adaptação mais sérias, que, em geral, somam-se às comorbidades que a criança ou o adolescente pode ter. Em muitos casos, as dificuldades persistem até a idade adulta

A maior parte dos pesquisadores e dos clínicos reconhece hoje em dia sua origem multifatorial, reconhecendo a intersecção de fatores de risco que, desde muito cedo, predispõem muitas crianças e muitos adolescentes a reagir a acontecimentos de vida estressantes por uma desordem afetiva acentuada que, em alguns, se tornará crônica (Dumas, 2011). 

Os transtornos de humor mais frequentes na infância e na adolescência são o depressivo maior, distímico e o bipolar. 

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A depressão e a irritabilidade representam dois aspectos preponderantes nas dificuldades de funcionamento características dos transtornos de humor na infância e na adolescência. A incidência e a gravidade dos sintomas que acompanham o humor depressivo ou irritável ou a falta de interesse e de prazer variam entre as pessoas atingidas.

Segundo Dumas (2011) na adolescência, o transtorno depressivo maior torna-se mais frequente, sobretudo nas meninas; quando está associado a dificuldades variadas, geralmente a sintomas ou a um transtorno de ansiedade, e não somente a problemas de comportamento. 

Os transtornos de humor são um fator de risco de suicídio, daí a importância em diagnosticá-los e tratá-los precocemente.


Critérios diagnósticos da depressão

Os critérios diagnósticos de acordo com o DSM 5 são obrigatoriamente:

·         humor deprimido ou a perda do interesse ou prazer em grande parte do dia, quase todos os dias durante o período das duas semanas.

Além do humor deprimido, deve haver a presença, de pelo menos, 4 dos sintomas seguintes sintomas:

 ·  Desânimo acentuado, ou anedonia.

·         ·  Redução ou aumento do apetite, com ganho ou perda de peso em 1 mês;

·         ·  Alterações do sono: hipersonia ou insônia;

·        ·  Pessimismo associado a sentimentos de culpa e/ou inutilidade;

·         ·  Baixa autoestima;

·         ·  Agitação psicomotora ou retardo;

·         ·  Ideação suicida e pensamentos constantes sobre a morte;

·         ·  Prejuízo da concentração com dificuldades para pensar.


Como os critérios utilizados para diagnóstico da depressão são os mesmos para os adultos, isso pode dificultar o diagnóstico das crianças, já que os sintomas nos pequenos variam e podem se apresentar de outras formas. 

Comorbidades

A depressão pura em crianças e adolescentes é considerada rara. Em geral, 40% apresentam como comorbidade transtornos de ansiedade (especificamente de separação) e 15% com transtorno de conduta, transtorno de oposição desafiante e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.

Avaliação da Depressão Infantil

São utilizados instrumentos de avaliação e entrevistas para obter informações. 
Segundo Ribeiro et. al (2013) os mais utilizados são as medidas de autorrelato objetivo e as listagens que fornecem dados sobre a presença dos sintomas, bem como sua frequência, intensidade e duração. O objetivo é auxiliar no processo diagnóstico, facilitando o reconhecimento dos sintomas e fornecendo base para o trabalho terapêutico.

- EBADEP - escala Baptista de depressão infanto-juvenil
- EPD - escala de pensamentos depressivos - 
- Escala de depressão infantil
- Inventário de depressão infantil



O vídeo abaixo mostra alguns sinais importantes a serem verificados:


Referências:

Dumas J. E. (2011). Psicopatologia da infância e da adolescência. Porto Alegre: Artmed.

American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Organização Mundial da Saúde. CID-10. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10 rev. São Paulo: Universidade de São Paulo: 1997.


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