Como é o tratamento para a depressão infantojuvenil?
A terapia cognitivo comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes no tratamento da depressão. Por ser uma terapia baseada em evidências, vamos utilizá-la para descrição de um "modelo de tratamento" para a depressão infantojuvenil.
O protocolo terapêutico apresentado por Ribeiro et.al (2013) para a faixa etária de 7 a 11 anos e a Terapia do Autocontrole por Bunge et.al (2015) para crianças e adolescentes de 9 a 13 anos.
Por ser um transtorno grave e que pode ter continuidade e recorrência na idade adulta, as intervenções psicoterapêuticas nos casos de depressão infantojuvenil são imprescindíveis e amplamente indicada nos casos de intensidade sintomática leve e moderada, e sendo associada a psicofarmacologia em casos mais graves.
Através da TCC, com sua estrutura bem definida e uso de técnicas de aplicação simples, aliadas ao comparecimento aos atendimentos semanais, durante pelo menos 10 semanas, mostrou que jovens submetidos a reestruturação cognitiva obtiveram melhora significativa em relação ao grupo que receberam atenção placebo(Ribeiro et. al, 2013).
O padrão cognitivo da depressão, segundo a TCC é representada pela tríade é: negatividade em relação as suas experiências atuais, visão negativa de si mesmo e visão negativa sobre o futuro. O paciente adota uma postura rígida e passa a ver tudo através dessa lente negativa e irrealista.
Baixa autoestima, desesperança e o sentimento de desamparo, são consequências que o fazem decair em uma vulnerabilidade cognitiva.
Esquemas desadaptativos são ativados quando a pessoa se depara com eventos específicos e determinará como ela responderá ao acontecimento. As interpretações do paciente tornam-se distorcidas para se "encaixarem" em seus esquemas disfuncionais prevalentes.
De abordo com Beck, citado por Ribeiro et.al (2013), quanto pior a depressão, piores são os esquemas desadaptativos de negatividade. Em casos graves, o paciente pode ser dominado por esses esquemas desadaptativos que passam a agir de maneira autônoma.
Esses esquemas desadaptativos geram erros cognitivos que se configuram em padrões ilógicos e que serão os conteúdos trabalhados em psicoterapia cognitivo comportamental.
Protocolo de TCC para o tratamento da depressão infantil
Segundo os autores, este protocolo tem por finalidade o alívio dos sintomas depressivos na criança e para isso, utilizaram-se de técnicas selecionadas, que conforme a literatura, apresentaram maior eficácia na remissão dos sintomas.
Os principais métodos terapêuticos para a depressão infantil são o incremento de atividades prazerosas, a reestruturação cognitiva, o treino em resolução de problemas, o treino em habilidades sociais, o treino de relaxamento, o incremento de habilidades de autocontrole e o treinamento de pais.
O tratamento foi estruturado na modalidade presencial, individual e incluiu os cuidadores no tratamento. Organizado em 18 sessões com a criança, 8 sessões com cuidadores e 3 com ambos - distribuídas em 20 semanas de atendimento e duração de 50 minutos.
Primeiras sessões - avaliação da criança e psicoeducação (2 sessões)
Etapa 1 - programação e execução de atividades prazerosas (3 semanas)
Etapa 2 - reestruturação cognitiva da criança (6 semanas)
Etapa 3 - aplicação de técnicas de resolução de problemas (3 semanas)
Etapa 4 - treinamento em habilidades sociais (3 semanas)
Etapa 5 - consolidação de ganhos e finalização do tratamento (3 semanas)
Terapia do Autocontrole
É dirigida a crianças de 9 a 13 anos, com diagnóstico de depressão unipolar, distimia e humor depressivo e tem como objetivos a ativação comportamental por meio da programação de atividades prazerosas, aprendizagem de habilidades de enfrentamento e de resolução de problemas para abordagem de dificuldades cotidianas, além da reestruturação cognitiva para gerar mudança na perspectiva que as crianças tem do mundo, do futuro e de si mesmas.
O programa inclui 18 sessões com a criança e 11 com a família (que tem início depois do 4º encontro com a criança).
Etapa 1 - primeiras 4 semanas - 2 entrevistas semanais que buscam proporcionar um maior alívio da sintomatologia. Na quinta semana as sessões reduzem para 1 por semana (o que possibilita tempo suficiente para a prática).
ACTION - acrônimo para as intervenções terapêuticas e suas etapas
A - Always do something to feel better (sempre faça algo para se sentir melhor)
C - Catch the positive and let the negative go (persiga o positivo e deixe de lado o negativo)
T - Think of it as a problem to be solved (pense sobre isso como um problema que pode ser resolvido)
I - Inspect the situation (investigue a situação)
O - Open yourself to the positive (abra-se ao positivo)
N - Never get stuck in the negative muck (não se apegue a um pensamento negativo)
Conteúdos das sessões de Terapia de Autocontrole (dividido em 18 sessões):
- identificação das emoções
- ativação comportamental: programar atividades que o divirtam e o façam se sentir bem
- modelo de resolução de problemas: identificar onde está o problema, dizer a si mesmo mensagens de esperança e de ânimo para resolvê-lo e, finalmente, executar o plano de resolução de seis passos
- identificação e questionamento de pensamentos negativos, procurando qual é a evidência que sustenta tal pensamento
- identificação do próprio estilo de atribuição: verificar se o ajuda a se sentir bem e analisar outras formas de ver a realidade
- interrupção da tendência a imaginar que sempre o pior poderia acontecer, detendo o pensamento pessimista - o que aconteceria se...
- autoproposição de objetivos pessoais: estabelecer um plano para alcançá-los e para superar a si mesmo, trabalhar com autoreforços e com mensagens de ânimo para atingir objetivos e conquistar autoeficácia.
A intervenção com os pais visa a modificação de padrões de interação que possam manter a sintomatologia depressiva
Referências:
Bunge, Eduardo. et. al. (2015). Sessões de psicoterapia com crianças e adolescentes. Novo Hamgurgo: Sinopsys. p.177-217.
Ribeiro, M. V. et. al. (2013). Terapia cognitivo comportamental na depressão infantil: uma proposta de intervenção. Rio Grande do Sul: Revista brasileira de terapias cognitivas. v. 9. n.2. p. 81-92.



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